A importância da tomada de decisão na avaliação de equipes e jogadores

O processo constante de análise de um apostador em futebol prevê avaliações criteriosas sobre a qualidade das equipes e também dos jogadores. Os pontos que cada apostador levanta nesse tipo de processo de análise normalmente tendem a ser pessoais. É impossível desassociar a forma como cada indivíduo aprendeu a enxergar o futebol do processo de avaliação de um jogador ou equipe.

Os diferentes tipos de olhares são saudáveis ao esporte e certamente seria completamente insuportável conviver em um meio onde todos pensam e agem de forma igual. As diferenças fazem do futebol um elo de contraposições que nos obriga constantemente a tomar decisões e a fazer escolhas. Tudo dentro do jogo é sobre ação e reação. A inércia quase nunca aparece como uma opção viável aos futebolistas.

Dentro desse contexto, resolvi neste artigo falar mais sobre um ponto pouco explorado nas apostas por analistas de futebol: o processo de tomada de decisão. Tido como fundamental nas entranhas conceituais do jogo, a capacidade de um jogador ou equipe de tomar as melhores decisões dentro de uma partida dificilmente se torna pauta de debate na análise de um confronto por apostadores.

Não tenho a pretensão de apontar isso como um erro, pelo contrário, o objetivo é somar e expandir as possibilidades. O que acontece, na maioria dos casos, tem a ver com a nossa mania de considerar atributos físicos e técnicos como mais importantes que os intelectuais. O passe, a velocidade, a força e a impulsão são características extremamente relevantes dentro do jogo, mas não costumam ser o suficiente para fazer um jogador ser realmente bom.

O corte improvável e o toque por cobertura em Neuer: Messi é o melhor do mundo também porque toma boas decisões

Parece piada, mas e se a gente parar um pouco para pensar naquilo que separa um jogador que disputa o Campeonato Carioca e a Premier League? E eu não quero que vocês comparem um jogador do Madureira com um atleta do Arsenal. Pode ser um jogador do Vasco, do Botafogo ou até mesmo do poderoso Flamengo. O que os difere? É somente a capacidade técnica? É o físico? É o mental? O que os difere?

Eu tenho a resposta dessa pergunta na ponta da língua e acredito que vocês já devem imaginar o que eu penso. Sou um defensor de que o processo de tomada de decisão é o grande ponto de desequilíbrio entre um jogador comum e um jogador de alto nível. E não estou sozinho nessa briga. Diversas personalidades do futebol falam abertamente sobre isso. Abaixo, deixo um vídeo do técnico Juan Carlos Osorio dissertando sobre o tema:

Futebol não é apenas sobre físico e técnica

Se você bater na porta de qualquer clube do mundo e oferecer a eles um defensor muito alto e veloz, dificilmente eles vão se negar a ouvi-lo. Zagueiros altos e rápidos são um sonho de consumo para dez entre dez treinadores e clubes de futebol no mundo. Partindo do ponto que esse é o maior desejo atual dos técnicos, você sabe me explicar porque temos tão poucos zagueiros de alto nível que se encaixam nesse perfil? Por que temos poucos defensores como Varane, Eder Militão e Upamecano em times grandes? Por que o Manchester City, com tanto poder financeiro, se vê obrigado a jogar com o Fernandinho improvisado na zaga?

Não é difícil encontrar jogadores que atuam na defesa com as características citadas por mim. É relativamente até tranquilo encontrar zagueiros muito altos e com uma boa velocidade jogando por aí, mas quase nenhum consegue jogar em alto nível simplesmente porque não desenvolveu o processo de tomada de decisão de uma forma eficiente. Um zagueiro para ser considerado de alto nível precisa ter um tempo de bola magnífico. Os excepcionais, como Virgil, do Liverpool, unem a excelência na tomada de decisão com uma boa imposição física. É o casamento perfeito.

Virgil Van Dijk possui técnica e bom porte físico, mas impressiona pela capacidade na tomada de decisão

Citei os zagueiros por entender que a escassez dos grandes clubes atualmente é um exemplo mais fácil de se compreender, mas isso poderia muito bem se aplicar aos laterais que não conseguem equilibrar o apoio ofensivo com a composição defensiva. E o que dizer dos goleiros que não conseguem se comportar bem quando sofrem a pressão de um marcador? E sobre os meio campistas parados que não se movimentam para receber a bola? Esses são apenas alguns exemplos que mostram que a capacidade de tomada decisão está muito presente na avaliação de jogadores e equipes.

Como aplicar esse conceito nas análises?

Bom, se procura uma fórmula mágica, infelizmente não posso entregar isso a você. Entretanto, uma forma efetiva de aplicar as observações sobre o processo de tomada de decisão de equipes e jogadores nas apostas é considerar isso em qualquer formação de opinião técnica. É relativamente fácil, para quem acompanha futebol a um certo tempo, identificar e qualificar jogadores ou equipes. Não demora muito para que pessoas do meio consigam identificar jogadores que possuem bom passe, bom drible e uma boa condução de bola, por exemplo. E quando a análise precisa ser feita em cima de equipes ou conjuntos, o comportamento coletivo dos jogadores e a aplicação de conceitos básicos como pressão, recomposição e a ocupação de espaços saltam aos olhos.

A avaliação do processo de tomada de decisão é sempre posterior a identificação das características básicas, seja de um jogador ou de uma equipe. A tomada de decisão é o que os atletas ou equipes fazem quando recebem estímulos. Por exemplo, uma equipe que se apresenta de forma muito corajosa e costuma marcar em pressão alta os adversários busca o quê? Recuperar a bola no campo do adversário, o mais próximo do gol possível, correto? E o que essa equipe faz quando alcança o objetivo de roubar a bola nesse cenário? Os jogadores conseguem, com a posse de bola, tomar as melhores decisões?

Cortando um pouco do caminho e sendo mais direto: é preciso ir além do óbvio. Não basta, para um analista, simplesmente identificar os padrões de jogo de uma equipe. Não basta saber que um jogador é rápido e habilidoso. É preciso avaliar a capacidade que esse jogador tem de se utilizar das qualidades que possui. Obviamente é melhor conseguir identificar os padrões, tanto de equipes quanto de jogadores, do que não conseguir, mas se contentar com isso é se auto-induzir ao erro. É como abraçar uma falsa sensação de sabedoria.

Eu comparo a sensação que uma análise rasa de futebol nos traz com uma receita de bolo. A gente vê tudo ali, no papel, escrito com todas as medidas certas que devemos seguir para que o bolo fique bom, mas isso não significa que nós vamos acertar na hora de fazê-lo. Se nós não tivermos a habilidade necessária para unir todos aqueles ingredientes e dar liga na massa, por exemplo, não adiantou nada ter a receita, pois literalmente todas as informações que nós tínhamos sobre como fazer aquele bolo não serviram pra nada. Não tomamos boas decisões durante o processo.

Inserir o processo de tomada de decisão de atletas e equipes nas análises significa se livrar de uma série de dogmas e preconceitos futebolísticos que carregamos conosco. Jogador bom não é necessariamente aquele que passa bem, aquele dribla muito ou aquele que é extremamente veloz. Jogador bom é aquele que toma as melhores decisões dentro do jogo quando estimulado. E como disse anteriormente, tudo dentro do jogo é sobre ação e reação. Tudo é sobre estímulos. Nesse caso, podemos inferir que jogador bom provavelmente é aquele que consegue ser capaz de utilizar com mais frequência as habilidades que possui.

Eu entendo que é muito difícil nos livrarmos de conceitos enraizados no nosso subconsciente. Fomos criados assim, nos ensinaram desse jeito. É confuso assumirmos para nós mesmos que não sabemos tanto sobre futebol quanto achamos que entendemos. Porém, expandir a mentalidade é mais do que necessário para ser um analista de alto nível. Apostadores precisam estar abertos ao processo de evolução analítica, principalmente porque o futebol é algo vivo, com nuances e transformações constantes. Não adianta ficar preso em ideias fechadas. “O que importa é a técnica”, “o que importa é a tática” ou “o que importa é o físico”. O que importa é tudo isso junto e mais um pouco.

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