Tudo sobre o Caso Paquetá

Como as casas de apostas sabem que um jogo foi manipulado?

Lucas Paquetá foi oficialmente denunciado pela FA (Federação Inglesa de Futebol) por má conduta relacionada a apostas em quatro jogos da Premier League.

Investigado nos últimos nove meses, as supostas violações de regras dizem respeito a “intencionalmente receber um cartão do árbitro com o propósito indevido de afetar o mercado de apostas para que uma ou mais pessoas lucrarem”.

Alega-se que ele procurou influenciar diretamente o progresso, a conduta ou qualquer outro aspecto ou ocorrência nessas partidas, buscando intencionalmente receber um cartão do árbitro com o propósito indevido de afetar o mercado de apostas para que uma ou mais pessoas lucrem com apostas – diz o comunicado da federação.

O que a FA alega na acusação?

Após nove meses de investigação, a denúncia feita pela FA se baseia em cartões recebidos por Lucas Paquetá em quatro partidas distintas do West Ham na temporada 2022/23 Premier League:

  • Leicester, em 12 de novembro de 2022;
  • Aston Villa, em 12 de março de 2023;
  • Leeds, em 21 de maio de 2023;
  • Bournemouth, em 12 de agosto de 2023;

Veja os lances:

O que Paquetá disse?

A manifestação de Lucas Paquetá após a denúncia feita pela Federação Inglesa aconteceu em suas redes sociais, através de um comunicado em que reiterou o compromisso e a ajuda nas investigações, afirmando que lutará para provar a inocência.

“Estou extremamente surpreso e chateado com o fato de a Federação Inglesa ter decidido me acusar. Cooperei com todas as etapas da investigação e forneci todas as informações que pude durante estes 9 meses. Nego as acusações na íntegra e lutarei com todas as minhas forças para limpar meu nome. Devido ao processo em andamento, não fornecerei mais comentários”.

O que dizem as regras que Lucas Paquetá teria violado?

E5 (Integridade dos participantes em relação à competição)

“O participante não deverá, direta/indiretamente, tentar influenciar para propósito impróprio o resultado, progresso, conduta ou qualquer outro aspecto em conexão com o jogo de futebol ou competição”.

“O participante não deverá, direta/indiretamente, oferecer, concordar em dar, dar, solicitar, concordar em aceitar ou aceitar qualquer suborno, presente ou recompensa ou consideração de qualquer natureza que esteja ou possa parecer estar relacionado de alguma forma com:

o participante, ou qualquer outro participante, não apresentar o melhor desempenho possível; ou

que o participante ou qualquer outra pessoa (participante ou não), direta/indiretamente, busque influenciar para fim impróprio o resultado, progresso, conduta ou qualquer outro aspecto em conexão com um jogo de futebol ou competição”.

Falhas no cumprimento da Regra F2

“A Associação terá poder de monitorar o cumprimento por cada participante das regras, das leis do jogo, estatutos e regulamentos da Fifa e da Uefa, regras e regulamentos de cada competição a que um participante esteja sujeito e/ou averiguar qualquer incidente, fato ou assunto que possa constituir má conduta sob estas regras. Cabe à Associação determinar em seu absoluto critério a forma como conduz uma investigação”.

“No desempenho de suas funções, a Associação terá poder de exigir de qualquer participante mediante aviso razoável:

comparecimento para esclarecer dúvidas e fornecer informações em horário e local determinado pelo A Associação;

fornecimento à Associação de documentos, informações ou qualquer outro material de qualquer natureza detido pelo participante;

fornecimento à Associação de documentos, informações ou material de qualquer natureza não detida pelo participante, mas que o participante tenha o poder de obter.

F3 (Poderes de investigação da Associação)

“Qualquer falha por parte de um participante no cumprimento de qualquer requisito da Regra F2 pode constituir má conduta nos termos das Regras, e a Associação pode apresentar uma acusação ou acusações que considere adequadas”.

O que pode acontecer com Paquetá?

Após a formalização da denúncia, Lucas Paquetá terá até 3 de junho para apresentar defesa à Federação Inglesa, mas ainda não há uma data estipulada para a decisão final.

Mesmo que o regulamento da FA não preveja especificamente punição para um caso como o tratado na acusação contra Lucas Paquetá, o histórico de combate à manipulação nas apostas esportivas no futebol inglês sugere que, em caso de condenação, o brasileiro deverá enfrentar uma punição importante.

A entidade suspendeu recentemente dois atletas em casos famosos: Ivan Toney, do Brentford (oito meses), e Sandro Tonali, do Newcastle (dez meses). Ambos ficam impedidos de atuar após investigação que apontou a participação dos jogadores e portais de apostas.

Toney recebeu o gancho após nada menos do que 232 violações das regras de apostas.

Tonali teve a punição por violar o regimento “entre 40 e 50” vezes, sendo que as últimas já como atleta do Newcastle.

O polêmico Joey Barton foi suspenso por 18 meses após uma investigação que apontou 1.260 apostas feitas pelo inglês entre 2006 e 2016.

Mas as denúncias que recaem sobre Paquetá indicam quadro mais alarmante, uma vez que a FA trata o brasileiro como parte ativa da suposta manipulação.

Um caso similar ao do meia aconteceu em 2017, em partidas da Copa da Inglaterra, e acabou gerando uma suspensão de cinco anos pelas advertências. O jogador em questão foi Bradley Wood, lateral-direito hoje com 32 anos. Seu gancho total foi de seis anos, depois de ter sido acusado de infringir, no total, 25 regras disciplinares da FA.

Duas dessas 25 infrações são especificamente cartões amarelos que teriam sido tomados de propósito, assim como Paquetá é acusado – segundo a FA, o meia brasileiro é investigado no momento por até quatro advertências que teriam sido “forçadas” para supostamente beneficiar apostadores.

No caso de Wood, os lances aconteceram em janeiro e fevereiro de 2017, em duelos do Lincoln contra Ipswich Town e Burnley, respectivamente, ambos jogos da Copa da Inglaterra.

Na investigação e decisão pela punição da FA, os contextos dos amarelos foram considerados. Inclusive, “beneficiaram” Wood, já que as jogadas acabaram vistas como “normais”, qualquer outro atleta poderia receber um cartão naquelas mesmas circunstâncias, de propósito ou não.

Assim como Paquetá, que nega ter cometido qualquer infração às regras da FA tomando cartões de propósito, Wood seguiu o mesmo caminho em sua defesa. A investigação, contudo, foi além e obteve fortes indícios de que, sim, o lateral teve envolvimento com apostadores nas duas situações.

O caso mais impactante, contudo, foi o de Kynan Isaac, que recebeu um gancho total de 12 anos em 2022 depois de receber deliberadamente um cartão amarelo em uma partida da Copa da Inglaterra.

Após investigação, o atleta do Stratford Town foi considerado culpado com forte o agravante de não cooperar com as investigações e ainda ter praticado outras 347 apostas entre agosto de 2016 e novembro de 2021.

Além de identificar “hábitos e padrões” com diversas pessoas envolvidas nas apostas em que recebeu cartões amarelos, o processo da FA aponta ainda a ligação de Kynan Isaac às outras partes envolvidas, compondo o que o relatório final tratou como “evidência circunstancial” da ilegalidade para tratar o caso como manipulação de resultado.

Foram usados como agravantes para a punição a intencionalidade do atleta nos jogos, com o mesmo “padrão” de faltas duras (algumas delas, segundo a decisão, passíveis de expulsão), além de falta de cooperação de Isaac durante as investigações da FA.


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