PVC pede em sua coluna na folha que Governo regulamente urgentemente as apostas esportivas

“Próximo escândalo do esporte virá da indústria de apostas, pode apostar”

O presidente do Santos, Andres Rueda, pronunciou-se no início desta semana sobre acusação de tentativa de suborno da goleira do Bragantino, no Brasileiro feminino. Acusado pelo crime, o preparador físico das Sereias da Vila foi demitido.

É mais um caso nebuloso que envolve apostas no esporte.

Todos os grandes escândalos da história do futebol, do tênis e do críquete estão ligados a apostadores. Hoje, você pode palpitar em tudo. Número de escanteios, diferença de gols, quem vai ser o vencedor ou quem marcará primeiro.

O caso Edílson Pereira de Carvalho, a Máfia da Loteria Esportiva, o Totonero, na Itália, as suspeitas no tênis internacional. Todos são casos ligados aos apostadores.

E, no entanto, há 35 clubes patrocinados por casas digitais, 19 deles na Série A. Parece um contrassenso.

​Andres Rueda tem um ponto de vista coerente sobre o risco de ter um funcionário acusado de suborno e, por outro lado, receber dinheiro de site de apostas: «Eles têm de ser regulamentados«.

Não é a primeira vez que se debate este assunto neste espaço. Os apostadores estão por toda parte. Eu não aposto, nunca. Mas um monte de gente pergunta se vai ganhar o Palmeiras ou o Avaí, o Corinthians ou o Santos, se o São Paulo vai vencer o Juventude ou se dá para levantar uma grana com a zebra de Caxias do Sul.

Os sites também dizem que é preciso regulamentar. O dinheiro atualmente sai do Brasil, para as sedes na Europa, enquanto o Congresso não define as regras de atuação.

Outra questão importante é determinar que as casas digitais tenham o compromisso de avisar quando há volume incomum. Se houver 80% apostando no América-MG contra o Flamengo, algo estará errado. Uma vez regulamentados, os sites terão esse compromisso.

«É necessário haver compliance, transparência e ninguém da indústria do futebol se envolver«, pensa Andres Rueda. O presidente do Santos faz esta última observação após ser lembrado de que Gianluigi Buffon foi acusado de palpitar em jogos dos quais participou, durante o escândalo do Calciopoli, na Itália, em 2005. Especialmente num tempo em que se pode ganhar dinheiro acertando quantos escanteios vai haver numa partida, o goleiro entrar nesse negócio é incompatível.

Não se trata de tomar um frango, mas de eventualmente espalmar para trás um chute que poderia ser defendido de primeira.

«Por outro lado, é um dinheiro de que o futebol precisa«, diz Rueda. Essa polêmica existiu na Europa na década retrasada, quando Milan e Real Madrid fecharam contratos de patrocínio com a Bwin. A relação com o clube espanhol durou entre 2007 e 2013. No ano seguinte, o time de Cristiano Ronaldo ganhou a Champions League, com a logomarca Fly Emirates no peito.

É urgente o Congresso Nacional trabalhar pela regulamentação. Se é impossível impedir, é necessário comprometer os empresários dessa indústria. É proibido jogar pôquer em cassinos ilegais, mas Neymar faz propaganda de casas internacionais.

O jogo no Brasil foi permitido entre 1920 e 1946. Getúlio Vargas frequentava os cassinos de São Lourenço e Poços de Caldas, até o presidente Eurico Gaspar Dutra decretar a proibição, três meses depois de sua posse. Uma versão conta que a primeira-dama, Carmela Dutra, deu o voto definitivo.

Isso faz 76 anos, e o Brasil de hoje é um enorme cassino. O mínimo, então, é regulamentar e comprometer os empresários. Mesmo assim, o próximo escândalo do esporte virá dessa indústria. Pode apostar.

PVC
Jornalista e autor de «Escola Brasileira de Futebol». Cobriu seis Copas e oito finais de Champions. Trabalha atualmente como colunista da Folha, na TV Globo e Rádio CBN.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pvc/2022/06/proximo-escandalo-do-esporte-vira-da-industria-de-apostas-pode-apostar.shtml

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